Papel de homem, papel de mulher

   Ontem o dia estava uma loucura com mil coisas pipocando e consultório lotado até as 8 da noite. Eis que no meio da tarde toca o telefone, era o marido P da vida:
- "Porque você não atendeu o telefone?"
- "Vi, que você ligou, mas estava com uma paciente", eu disse.
- "Não o meu telefonema, o da escolinha, o Victor está com febre!." Pronto, palavra enruga-testa: febre!, "Já que você não atendia ao telefone, precisei cancelar tudo e estou indo buscar ele!", continuou enfurecido.
- "Calma, acho que meu celular não tem nehuma ligação além da sua que eu não atendi", eu não desgrudo do bicho, tá sempre colado em mim, as vezes até acho que vai me dar câncer pela radiação..."Você quer que eu vá lá buscá-lo e você volta pro trabalho?", perguntei preocupada com o filhote e com as consultas que teriam que ser canceladas.
- "Agora que eu já desmarquei tudo e estou no meio do caminho, não precisa", respondeu com mau-humor típico.
   Ainda ficamos decidindo quem iria buscar a mais velha, às terças quem busca é a minha mãe, avisar a babá que esperava no clube ( a escola dos meus filhos fica dentro de um clube aqui em Sampa)e outras coisas práticas. No final da ligação, ele já estava mais manso. Decidimos que ele iria buscar o Victor e o levaria pra casa, enquanto a babá esperaria a Marina e voltaria com a minha mãe pra casa.
   Ao desligar o telefone, a primeira coisa que eu fiz, claro, foi checar as últimas ligações. E nada, nenhuma ligação da escola. Até chequei o sinal pra ver se estava tudo ok, estava. Imediatamente comecei a sentir aquele gostinho amargo de culpa na boca. Culpa e um pouco de indignação pelo "tom" da conversa do meu marido.
   Então sou sempre eu que tenho que cancelar tudo pra buscar filho doente na escola???  Serei sempre eu porque sou "A Mãe"? Fiquei com a sensação que ele me acusava de ter falhado no meu papel de "A Mãe". E o pior: eu também! Mesmo não tendo recibo ligação nenhuma! Parece que tem coisas que são escritas na ficha da pessoa quando ela vira mãe e cuidar de filho doente é função insubstituível. Me sentia "traindo" este papel e, ao mesmo tempo, no meu direito de mãe-moderna-que-trabalha, de dividir as funções com o marido. Afinal, o trabalho dele é mais importante que o meu ou seria só porque o "papel" dele é o de trabalhar e o meu de cuidar de filho doente mesmo também trabalhando? Complexo, né? Nem eu entendo direito, mas me perco em pensamentos filosóficos com relação a estes papeis mal definidos da nossa sociedade modernete.
   Pronto! Minha cara já ficou meio "micha", queria estar com  filho e queria trabalhar ao mesmo tempo. Odeio desmarcar consultório. Continuei, já que "não era mesmo pra eu ir". Castigo, dele? Ou foi bonzinho no final? Como as relações são complicadas!
Para evitar novos mal-entendidos mandei uma mensagem perguntando do pequeno mais tarde. Estava bem, febrícula de 37,4 graus (o marido também é médico, não ia dar o remédio errado). Fiquei tranquila e ralei o resto da tarde, mas com uma sensação que iria levar uma "bronquinha" no meu retorno e uma "culpinha"básica. Será que devia ter insistido e ido ficar com ele?
   Para resumir, que você já não deve aguentar mais a minha ladainha, cheguei de mansinho em casa, tudo estava calmo, crianças dormindo e marido feliz: ficou brincando um tempão com filho de trenzinho... Boba eu de me preocupar tanto, né?


P.S. 1- Tenho que ser justa com o marido, ele cancelou tudo e ficou "internado" com a Ma na sua internação começo de Agosto. Veja  aqui este post.
P.S. 2- Papel de mãe que adoro e não abro mão é reunião de pais. Adoro e tenho uma agora!
P.S. 3- A querida amiga e blogueira Roberta Lippi and friends lançaram o mamatraca. Site muuuito bacana sobre maternidade. estou lá falando do maior mico que já passei com as crianças...
  
  

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